segunda-feira, 14 de maio de 2007

Jorge Borges de Macedo: notas caracterizadoras da sua historiografia

Como principais notas caracterizadoras da historiografia de Jorge Borges de Macedo (JBM), temos: a) desde logo, a diversidade dos temas tratados, pois JBM tanto se debruça sobre a problemática económica como sobre a sociedade, a política, a tecnologia, a ciência, a filosofia, a arte, a religião, entre outras temáticas, num entendimento da história como disciplina que trata a globalidade da experiência humana passada; b) a preferência pela inovação, presente em quase todos os estudos do historiador, em detrimento dos caminhos já explorados; c) desta última, resulta o esforço persistente para contrariar ideias-feitas sobre alguns problemas fulcrais da História de Portugal; d) a sua adesão “à história-problema, à teorização e ao elemento explicativo-superador da mera descrição” (José Amado Mendes), sempre suportada pela própria análise histórica, no quadro do que designava por “formalização concreta” – adesão esta facilitada, sem dúvida, pela sua licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas; e) a adopção de uma perspectiva aberta aos vectores políticos, socioeconómicos e culturais, procurando um quadro histórico matizado em vez das leituras estritamente políticas e diplomáticas que nos habituaram muitos anos de historiografia positivista; f) do ponto de vista metodológico, importa destacar tanto o recurso a fontes de diversos tipos e pouco utilizadas como o recurso a historiografia de várias origens, nomeadamente anglo-saxónica; g) o interesse de JBM por algumas das tendências historiográficas mais recentes, como a Nova História Económica ou a Arqueologia Industrial, por si teorizadas e divulgadas a outros historiadores e estudantes. Tudo isto contribuiu para que Jorge Borges de Macedo, juntamente com outros historiadores[1], tivesse um papel fundamental, para não dizer primordial, na renovação que a historiografia portuguesa conheceu a partir dos anos 50, nomeadamente a história económica e social[2]. A sua acção centrou-se sobretudo no século XVIII, propondo uma nova interpretação económica da governação pombalina, examinando extensamente as condições internas e externas para o desenvolvimento da indústria portuguesa no século XVIII e início do século XIX e, como já se disse, refutando algumas ideias-feitas sobre este período, como, por exemplo, as ideias de que as relações com a Inglaterra durante o século XVIII configuravam uma situação de dependência altamente prejudicial ao crescimento económico do país ou de que fora Pombal quem sacudira o jugo inglês e criara do nada a indústria em Portugal.
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[1] Como Vitorino Magalhães Godinho, Virgínia Rau, Fernando Piteira Santos, Joel Serrão, Armando de Castro e Oliveira Marques.
[2] Sobre o contributo destes historiadores para a renovação da historiografia portuguesa, ver José Amado Mendes, “A renovação da Historiografia portuguesa”, in Luís Reis Torgal, José Amado Mendes, e Fernando Catroga, História da História em Portugal (séculos XIX-XX), s.l., Círculo de Leitores, imp. 1996, pp. 277-343, e ainda as entradas de Carlos Maurício e Álvaro Ferreira da Silva para os últimos volumes do Dicionário de História de Portugal (Coord. de António Barreto e Maria Filomena Mónica), respectivamente “História – Da consolidação da história metódica à lenta renovação do pós-guerra”, in Op. Cit., Vol. VIII, Supl. F/O, 1.ª Edição, Lisboa, Livraria Figueirinhas, 1999, pp.172-177, e “História Económica”, Op. Cit., pp. 180-183. Sobre Jorge Borges de Macedo, em particular, ver, além destes textos, a entrada de Nuno Valério para o Dicionário de História do Estado Novo (Dir. de Fernando Rosas e J. M. Brandão de Brito), Vol. II, Lisboa, Circulo de Leitores, 1996, p. 534, bem como a de Jorge Pedreira para o Dicionário de História de Portugal, intitulada “Macedo, Jorge Borges de (Lisboa, 3-3-1921 – Lisboa, 1996)”, Op. Cit., p.405.

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